Como a droga se tornou a base financeira do regime sírio e suas consequências na região
Saco com pílulas de droga sintética encontrada escondida perto de concessionária da família de Bashar Al-Assad — Foto: Ozan KOSE / AFP
A recente queda do regime de Bashar Al-Assad na Síria expôs uma das bases do poder de seu governo: a produção e comercialização de captagon, uma droga sintética conhecida como a ‘cocaína dos pobres’. Com a descoberta de grandes estoques da droga em armazéns e bases militares, ficou claro que o captagon foi uma fonte significativa de receita para a ditadura síria, gerando cerca de US$ 10 bilhões por ano, como reportado por várias fontes de notícias.
O comércio de captagon se tornou um verdadeiro império, com lucros diretos de aproximadamente US$ 2,4 bilhões anuais para a família Assad. Essa situação foi detalhada pela jornalista Sandra Cohen, que apontou que “a Síria se tornou o maior produtor de captagon no mundo”, contribuindo para a transformação do país em um narcoestado.
Após a derrubada do regime, membros do grupo rebelde Hayat Tahrir al-Sham (HTS) prometeram erradicar o tráfico da droga e começaram a desmantelar laboratórios e armazéns onde a substância era produzida. Em declarações, Mohammad al-Jolani, comandante do HTS, afirmou que “a Síria será purificada pela graça de Deus”. Contudo, o desafio de erradicar completamente o captagon se mostra complicado, uma vez que o negócio já está profundamente enraizado no país.
A origem do captagon remonta à década de 1960, quando foi desenvolvido como um medicamento para tratamento de transtornos de deficiências de atenção. Com o tempo, seu uso se tornou ilegal na maioria dos países devido ao seu potencial viciante e a efeitos colaterais severos, como psicose e ansiedade. No Oriente Médio, a droga se popularizou entre jovens que buscam uma alternativa ao álcool, sendo frequentemente associada a festas e situações de estresse.
Um dos aspectos alarmantes do captagon é como ele se tornou parte da vida de muitos jovens no Oriente Médio. Relatos indicam que a substância é utilizada para impulsionar o foco durante estudos ou para manter a energia em zonas de conflito. Adicionalmente, é importante ressaltar que a Arábia Saudita é uma das nações mais afetadas pela onda de dependência, recebendo cerca de 67% das apreensões dessa droga entre 2012 e 2021, conforme apontado por agências internacionais.
Além disso, a ligação da droga com a família Assad é explícita. Maher Assad, irmão do ex-ditador, é um dos principais responsáveis pela supervisão e distribuição do captagon em suas diversas formas. A queda do regime de Bashar foi muito além da política; ela revelou um enredo complexo de corrupção, tráfico e lutas pela sobrevivência em um cenário devastado pela guerra civil, mostrando que a erradicação do captagon será um desafio gigantesco para o novo governo.
Com a situação política ainda instável, a questão que permanece é: poderá o novo regime superar o poder econômico do narcotráfico que, por tanto tempo, sustentou a opressão na Síria?
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Referências
- https://g1.globo.com/mundo/blog/sandra-cohen/post/2024/12/16/entenda-como-a-droga-captagon-se-enraizou-na-siria-sob-o-aparato-do-regime-assad.ghtml
- https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2024/12/16/o-que-e-captagon-nova-cocaina-dos-pobres-que-financiou-ditadura-brutal.htm
- https://www.dw.com/pt-br/queda-do-regime-s%C3%ADrio-exp%C3%B5e-imp%C3%A9rio-de-drogas-da-fam%C3%ADlia-assad/a-71053107