Os impactos das tarifas dos EUA estão afetando o real e a inflação no Brasil!
JGP chief economist Fernando Rocha — Foto: Leo Pinheiro/Valor
Economistas destacam que a adoção agressiva de tarifas pelos Estados Unidos está introduzindo forças desinflacionárias para algumas economias emergentes, incluindo o Brasil. No entanto, a expectativa de uma desaceleração mais acentuada na economia americana tende a afetar negativamente as taxas de câmbio desses países, complicando a perspectiva inflacionária no curto prazo. A declaração foi feita por especialistas durante uma cerimônia de premiação na sede do Banco Central em São Paulo, reafirmando a crescente incerteza sobre o cenário internacional e seus efeitos na política monetária brasileira.
Fernando Rocha, economista-chefe da JGP, sugere que o choque tarifário “provavelmente levará a uma pressão inflacionária crescente e a uma tendência recessiva na atividade econômica dos EUA”, provocando uma política monetária mais conservadora por parte do Federal Reserve, além de um dólar mais forte. Segundo Rocha, a reestruturação das cadeias de comércio global pode levar a uma onda desinflacionária, mas a desvalorização do real “mitigaria o efeito deflacionário inicialmente”.
Carlos Thadeu Filho, economista sênior da BGC Liquidez, expressa uma perspectiva ainda mais negativa, afirmando que há uma deterioração na composição da inflação brasileira, que pode agravar-se com uma potencial desvalorização do real. Thadeu Filho comenta que o mercado enfrentava uma apreciação da moeda mesmo com interferências do governo na política monetária. “Após as tarifas, esse choque relacionado retorna à depreciação da moeda”, afirma.
Eduardo Vecchio, coordenador de projetos da Caixa Asset, menciona que as tarifas americanas tendem a elevar a inflação e desacelerar o crescimento econômico nos EUA, com o comportamento do dólar dependendo de como se desenvolverá um cenário de recessão americana. Ele alerta que “uma vez que os EUA mudam de uma perspectiva econômica fraca para uma muito fraca, isso tem um efeito significativo sobre as moedas emergentes”.
A situação atual levanta preocupações sobre as expectativas de inflação nos EUA, que podem não se ajustar da forma esperada após o choque tarifário. “A ideia inicial era que os aumentos de preços se amenizariam após o choque, mas agora pode ser diferente”, adiciona Vecchio, ressaltando a importância de monitorar a evolução das expectativas inflacionárias.
Traders work on the floor of the New York Stock Exchange during afternoon trading in New York City.
Em um contexto mais amplo, a política tarifária do presidente Donald Trump apresenta contradições, uma vez que ele sempre se posicionou a favor de um dólar forte para manter sua dominância no comércio mundial, enquanto simultaneamente deseja fortalecer a economia americana através de tarifas que, ironicamente, têm gerado desconfiança nos investidores. “Os temores sobre a saúde da economia americana estão colocando pressão descendente sobre o dólar”, observa Chris Turner, chefe global de mercados do ING.
Conforme os eventos se desenrolam, fica claro que as tarifas não só estão moldando o cenário econômico dos Estados Unidos, mas também reverberando em todo o mundo, impactando diretamente o Brasil e suas perspectivas inflacionárias e cambiais.
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Referências
- https://valorinternational.globo.com/markets/news/2025/04/07/economists-say-fx-rate-may-curb-disinflationary-effect-of-us-tariffs.ghtml
- https://foreignpolicy.com/2025/04/08/trump-trade-tariff-dollar-markets-confidence/