Como a companhia aérea lida com dívidas em meio a crises financeiras e incertezas do mercado?
Avião da Azul decola do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro — Foto: Ricardo Moraes/ Reuters
A companhia aérea Azul se tornou a última das principais empresas do setor no Brasil a solicitar recuperação judicial, apresentando seu pedido nesta quarta-feira (28) nos Estados Unidos. O movimento destaca os desafios financeiros enfrentados pelas companhias aéreas brasileiras desde o início da pandemia de COVID-19. A Azul busca reestruturar mais de US$ 2 bilhões em dívidas, aproximadamente R$ 11,28 bilhões, em um cenário marcado pela instabilidade econômica e dificuldades operacionais.
As consequências da pandemia foram devastadoras para o setor aéreo. A Azul, assim como a Gol, que pediu recuperação judicial em janeiro de 2024, e a Latam, que entrou com o pedido em 2020, enfrentou um acúmulo de prejuízos ao longo desse período. Segundo John Rodgerson, CEO da Azul, a recuperação judicial permitirá à companhia “operar e atender seus públicos de interesse normalmente” enquanto trabalha nos ajustes financeiros. Esse processo, que ocorre sob a proteção do Capítulo 11 da Lei de Falências dos EUA, possibilita a continuidade das operações e a manutenção dos serviços e clientes.
Os analistas apontam que o aumento nos pedidos de recuperação judicial no setor aéreo é reflexo de diversos fatores, como a desvalorização do real e os altos custos com combustíveis. O economista Ricardo Machado Ruiz, da UFMG, observa que “o setor aéreo sempre enfrentou uma concorrência intensa em relação a preços”, o que se tornou ainda mais crítico em tempos de crise. Além disso, a falta de apoio governamental após a pandemia também contribuiu para o agravamento da situação. Enquanto as companhias aéreas dos EUA e Europa receberam suporte financeiro, as brasileiras ficaram sem qualquer assistência significativa.
Consultores destacam que a elevada carga tributária e a falta de infraestrutura adequada são fatores que sobrecarregam as operações das empresas. Gianfranco Beting, especialista em aviação, enfatiza que o governo atual “onera com o combustível mais caro do mundo” e possui um sistema tributário complexo que dificulta o funcionamento do setor.
Embora a recuperação judicial seja uma solução temporária, especialistas alertam que a falta de um planejamento estratégico de longo prazo poderá comprometer a recuperação efetiva das companhias. O economista Ingo Plöger observa que “um país como o Brasil, com dimensões continentais, não pode ter apenas dois polos principais” e cita a necessidade de uma conectividade regional mais robusta para o desenvolvimento da aviação no país.
À medida que a Azul se prepara para sua reestruturação, a expectativa é que a companhia consiga reduzir sua alavancagem e melhorar a liquidez. Contudo, as incertezas do mercado, unidas aos desafios internos e externos, exigem estratégias assertivas e um olhar atento ao futuro.
Este é um momento crítico para a aviação brasileira e, enquanto as empresas tentam encontrar um caminho para a recuperação, os impactos nas operações e no mercado de ações, como visto nas oscilações das ações da Azul após o anúncio, serão monitorados de perto. O que resta saber é como essas medidas afetarão a satisfação dos clientes e a estabilidade da empresa.
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Referências
- https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/05/28/por-que-as-principais-companhias-aereas-do-brasil-tiveram-que-pedir-recuperacao-judicial.ghtml
- https://gauchazh.clicrbs.com.br/video/companhia-aerea-azul-entra-em-recuperacao-judicial-cmb8dz2eb000x01dwzg5krjsr.html
- https://www.infomoney.com.br/mercados/de-queda-forte-a-alta-o-que-explica-gangorra-com-a-acao-da-azul-apos-chapter-11/